Editorial da Edição
RPPR Rio de Janeiro, Vol. 6, Nº 3, Setembro a Dezembro de 2019, publicado em setembro de 2019
Nota de Pesar - Falecimento Prof. Hermes Magalhães Tavares
A Comissão Editorial da Revista Política e Planejamento Regional se vê na triste obrigação de informar que seu Co-Editor nestes últimos anos, o Professor Hermes Magalhães Tavares, faleceu no dia 13 de setembro de 2019. O Professor Hermes esteve envolvido desde o princípio na articulação da RPPR em 2012 e teve um papel fundamental na sua criação e consolidação. Sua presência e suas importantes contribuições na Comissão Editorial vão fazer muita falta.
Natural da Bahia, Hermes é de uma geração engajada na superação da pobreza, da doença, do analfabetismo e da fome vigente de longa data nas sociedades latino-americanas e, em especial, no nordeste brasileiro. No início dos anos 1960 já trabalhando na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), fez o concorrido o Curso de Especialização em Problemas de Desenvolvimento ministrado na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). As ideias estruturalistas cepalinas e a perspectiva do planejamento econômico via Estado marcariam sua trajetória profissional - fez parte da equipe que definiu os polos de desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) - e acadêmica. Após alguns anos trabalhando no Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM), o professor Hermes ingressou na UFRJ em 1978. Dedicado professor nas diversas disciplinas da pós-graduação, em meados dos anos 1990 foi um dos diretores do IPPUR entre assumiu a direção do Instituto, sem, no entanto, deixar de lado uma das suas paixões: a de trabalhar, enquanto editor na produção dos Cadernos IPPUR e, posteriormente da RPPR.
APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS PÚBLICADOS NO PRESENTE NÚMERO (nº 3, vol, 6, 2019)
O artigo “Geografia e Estado - Organização territorial e a criação de centralidades a partir das instituições públicas”, como primeiro do atual número, da autoria de Paulo Wagner Teixeira Marques e Miguel Angelo Campos Ribeiro, investiga a forma como o Estado organiza o seu território por meio de algumas Instituições públicas federais. Busca, assim, compreender a hierarquia das cidades brasileiras por meio das conexões criadas e mantidas pela gestão do território realizada pelo Estado e identificar os centros urbanos que concentram a capacidade de comando e controle no País.
Já o segundo texto, no contexto da expansão da viticultura no estado do Rio Grande do Sul, da autoria de Vanessa Manfio e Vinício Luís Pierozan pretende discutir o desenvolvimento territorial da vitivinicultura em dois territórios gaúchos bastante particulares e distintos sob o título “ O desenvolvimento dos territórios do vinho no estado do Rio Grande do Sul: uma discussão sobre o Vale dos Vinhedos e a Campanha Gaúcha”. Focou o estudo nas ações voltadas ao associativismo e indicações geográficas (IGs) que parecem ser responsáveis pela valorização dos vinhos e o aumento do enoturismo.
Voltado à temática dos conflitos ambientais, o terceiro artigo de Paulo Henrique Campos Leite e Rômulo Soares Barbosa investiga o tratamento dos conflitos ambientais pelo Ministério Público enquanto instituição voltada à defesa dos interesses coletivos e está intitulado “Conflitos ambientais e a atuação do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais - NUCAM - do Ministério Público do Estado de Minas Gerais”. Consegue deduzir, através da atuação do Núcleo de Resolução de Conflitos Ambientais, NUCAM, que, por um lado, os métodos autocompositivos podem contribuir para a resolução de alguns conflitos ambientais. Mas, que por outro lado, por si só, não tem aptidão para resolução de todo e qualquer caso, o que demanda a atuação do Ministério Público segundo os métodos convencionais de solução de conflitos.
No artigo seguinte da autoria de José Firmino de Sousa Filho, Kecia Cristina Miranda da Silva, Edna da Silva Fonseca e Fernanda Oliveira Caires e Caires com o título “Análise setorial da produtividade do fator trabalho na Bahia a partir dos anos 2000” o principal objetivo é comparar a evolução da produtividade do fator trabalho no Estado da Bahia, investigada sob a ótica da estrutura do valor adicionado setorial sobre a população ocupada, com a tendência de crescimento da taxa do PIB per capita estadual. Busca, assim, fornecer subsídios teóricos e empíricos para a discussão, entendimento e planejamento de estratégias de crescimento produtivo para o Estado da Bahia.
O artigo “Globalização e territórios violados - Sustentabilidade da exploração de lítio na Argentina” (em castelhano) de Miguel Lacabana e pesquisadores da Universidad Nacional de Quilmes/Argentina, o penúltimo deste nº 3 de 2019, apresenta a problemática da mineração de lítio nas planícies salinas das terras altas da Argentina em um contexto global e ambiental mais geral da mineração. Ao compreender o lítio como recurso estratégico para as tecnologias avançadas em dispositivos eletrônicos portáteis e veículos elétricos – o “petróleo do futuro”- , o artigo, a partir de um olhar interdisciplinar, define seu complexo sistema que expressa a dinâmica da estrutura de relações entre subsistemas econômico, socioinstitucional e físico natural que permite entender a complexidade econômica e os impactos socioambientais de sua extração.
O último artigo deste nº 3, “Transição paradigmática e suas relações com o planejamento do desenvolvimento regional na Amazônia”, de Perpetuo Santos Diniz é um convite à reflexão sobre uma transição paradigmática pela qual o planejamento regional amazônico deveria passar para incorporar preocupações relativas ao desenvolvimento sustentável, a uma percepção holística de natureza e à valorização das práticas das populações tradicionais nela realizadas. Procura encontrar os argumentos para a superação do tecnicismo e cientificismo impregnados no planejamento numa demarche rizomática nas proposições de Deleuze e Guattari e na valorização da cartografia de indícios socioambientais, sem entrar num detalhamento tanto da própria região amazônica como das experiências passadas do planejamento na região.