Editorial da Edição
RPPR, Rio de Janeiro, vol. 7, nº 2, Maio a Agosto de 2020, publicado em maio de 2020
Editorial
O primeiro ensaio do presente número da RPPR de Ivaldo Lime com o título "Em favor da Justiça Territorial: o encontro entre geografia e ética" explora o escopo teórico-conceitual e o espectro de aplicações práticas da justiça territorial, no intuito de esclarecer o papel desempenhado por valores éticos no processo de produção social do espaço. Nesse balizamento, a justiça territorial é concebida como a situação socioespacial na qual os vetores que promovem espaços opressores são, efetivamente, combatidos e eliminados ou, idealmente, não existem. Destarte, a argumentação está estruturada em três partes. Primeiramente, são apresentados, brevemente, os fundamentos e os horizontes da ética, bem como reflexões sobre o estatuto ético da categoria ontológica do Outro. A seguir, é abordada a relação mais compreensiva entre ética e geografia, acompanhada de um arrazoado específico sobre a justiça territorial. Na última parte, são exemplificadas aplicações da justiça territorial a contextos socioespaciais, especialmente aqueles discutidos em nossos trabalhos dos últimos dez anos sobre a geografia política da cidade.
O seguinte artigo "Planejamento territorial e escalas espaciais: Uma análise da percepção dos atores sociais em regiões selecionadas do Rio Grande do Sul" de Cíntia Agostini discute como, entre os anos de 2009 e 2010, no Estado do Rio Grande do Sul os Conselhos Regionais de Desenvolvimento – COREDES - efetivaram os planos estratégicos em vinte e sete regiões. Em uma pesquisa que aconteceu entre os anos de 2013 e 2014 foram avaliadas diversas dimensões deste planejamento. Assim, o presente artigo discute a percepção dos atores sociais envolvidos no processo de planejamento, sobre a dimensão escalar. Para possibilitar a análise, o território e as escalas espaciais são considerados resultado de construções sociais e históricas, atuando a partir da relação dialética entre o movimento da globalização e o contra movimento dos territórios. A abordagem metodológica da pesquisa é qualitativa descritiva. Ao finalizar, o texto tanto destaca a dimensão escalar, enquanto unidades de análise, das regiões em que aconteceu o planejamento; como enfatiza também, enquanto categoria prática, as percepções dos atores nas relações, na ação e no planejamento intra e interescalar.
No terceiro artigo desse número, os autores Wellington Tischer, Valerio Alecio Turnes e Isa de Oliveria Rocha investigam “A expansão das Instituições de Ensino Superior (IES) como empreendimentos regionais no Brasil – uma discussão a partir do uso de metáforas” relacionadas à interiorização de Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil encontradas em fontes documentais e bibliográficas nos últimos anos. Encontram novas e velhas metáforas que caracterizam a postura diante da ciência, da instituição, sua localização e infraestrutura no território e que podem qualificar o debate sobre a expansão e interiorização do ensino superior no Brasil.
O seguinte artigo “A abordagem territorial de desenvolvimento no Território da Cidadania da Grande Dourados: aspectos da organização e desenvolvimento de agricultores familiares” de Gilson Carlos Visú e Adauto de Oliveira Souza pretende demonstrar como a Associação de Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul (APOMS) utilizou, a partir da implementação, no Brasil. do Programa Nacional de Desenvolvimento Territorial Sustentável (PRONAT) em 2003, e do Programa Territórios da Cidadania (PTC) em 2008. uma abordagem territorial como estratégia para sua organização e desenvolvimento. Por meio de um colegiado de desenvolvimento territorial, fórum de debates e planejamento de estratégias foram propostas ações indutoras de dinâmicas produtivas com capacidade de gerar inclusão social e de reconfigurar o desenvolvimento do território.
O quinto artigo com o título “Desenvolvimento regional numa formação social semiperiférica: o caso do Brasil” de Ivo Marcos Theis se propôs examinar, em diálogo com intérpretes selecionados do pensamento social brasileiro, o desenvolvimento regional no Brasil, uma formação social semiperiférica, da perspectiva da formação de seu território. Desenvolve, de forma instigante, com a possibilidade de suscitar controvérsias, uma linha de argumentação que avança da revisão do caráter desigual do desenvolvimento capitalista e suas implicações histórico-geográficas, à apresentação da formação histórica do território brasileiro na sua condição de formação social semiperiférica, para, então, à analise do processo de desenvolvimento (econômica, social, política e geograficamente) desigual que, no Brasil, tem conduzido à reiterada desorganização do território em regiões.
Fechando o nº 2 do volume 7, os autores, Thays Tureck Rodrigues e Cleverson Vitorio Andreoli, se mostram preocupados no seu texto “Análise da atividade da Assembleia Legislativa do Paraná em relação a sustentabilidade e meio ambiente” com a necessidade de os representantes políticos numa sociedade democrática criarem mecanismos para mitigar impactos decorrente da apropriação dos recursos naturais com a conservação do ambiente através da adoção de práticas sustentáveis. Neste sentido propõem a analisar a atuação da Assembleia Legislativa do Paraná ligada à legislação ambiental e a sustentabilidade. Referente a essa legislação identificam todas as proposições nos últimos 10 anos, avaliam suas tramitações e acabam mostrando a forte influência do poder executivo sobre o legislativo, tanto na proposição de novas leis como na efetividade de aprovação dos projetos apresentados.