Editorial da Edição
RPPR Rio de Janeiro, Vol. 10, No. 1, Janeiro a Abril de 2023 - publicado em janeiro de 2023
O primeiro artigo da 10ª edição da RPPR com o titulo "A espacialidade da demanda chinesa em Minas Gerais" de Gabriel do Carmo Lacerda visa identificar alguns dos impactos espaciais da demanda chinesa em Minas Gerais. A investigação se volta para as consequências econômicas e os espaços acionados para atender a crescente demanda chinesa por commodities, sejam minerais ou agropecuárias. Em especial, dar-se-á atenção ao segmento agropecuário, geralmente ocultado pelo peso do setor mineral estadual. O objetivo é localizar e caracterizar os principais municípios exportadores e a infraestrutura atrelada à exportação. Nesse sentido, serão destacados os rebatimentos no território, mais detidamente, nas mesorregiões do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e no Noroeste de Minas, espaços nos quais se assiste a expansão da área plantada, da produtividade e da dotação de infraestrutura logística para escoamento de produtos agropecuários. Por fim, menciona-se, brevemente, estes impactos e suas contradições para o crescimento e o desenvolvimento.
O segundo texto do autor José Américo Roberto Chiarella Quinhões com o título “Ferrocarril, integracion y desarrollo territorial: Análisis de la propuesta (no) oficial tras el mito chino” apresenta um relato do projeto da ferrovia bioceânica da iniciativa oficial chinesa. Discute os motivos pelos quais a proposta não foi adiante em sua implementação. Também, evidencia a viabilidade económica do projeto e sustenta que o ponto de inflexão foi a modificação do enfoque inicial que era de uma iniciativa privada, sob uma perspectiva de desenvolvimento e integração territorial, para um enfoque de investimento público, sob uma perspectiva de corredor logístico, sem vínculos com o desenvolvimento do território.
O terceiro artigo “Segregação sócio-espacial em Caçador / SC” dos autores Taise Teodozio e Francisco Canella está voltado para a segregação e desigualdade urbana neste município de médio porte (ca. 71.000 habitantes). Investiga traços da sua estrutura sócio-espacial diferenciada entre bairros periféricos e bairros das áreas centrais e pretende identificar através de dados oficiais sobre investimentos em obras públicas da Prefeitura em que medida a presença de ações da gestão pública possam ter contribuído a um aumento da segregação urbana no município. Neste caso, em consonância com outro municípios de maior porta, se encontrou um tratamento diferenciado a determinadas áreas com reinvestimentos públicos, enquanto bairros mais afastados carecem de estrutura urbana adequada o que resultou à valorização do solo e um estimulo ao setor imobiliário. Processo que levou os moradores de baixa renda a procurarem áreas mais periféricas com menos infraestrutura urbana.
Em seu artigo “Impactos da COVID-19 nos preços e na produção agropecuária Sergipana” os autores E. K. S. Alves, A. P. S. Villwock, M. A. P. Querol e J.L. Fossá pressupõem que a disseminação da COVID-19 ocasionou impactos em produção e preços de produtos agropecuários. Assim, com seu estudo objetivam identificar estes impactos na produção e preços dos principais produtos agropecuários e insumos agrícolas no estado de Sergipe, Brasil. Investigam por meio de diversas fontes aprodução, preços recebidos pelos agricultores, preços de mercado e preços pagos pelos produtores o período de 2017 a setembro de 2021. Mostram que, mesmo com o aumento nos preços de produtos agropecuários e nos custos de produção agropecuários, houve a continuidade na quantidade de alimentos produzidos devido a diversos fatores elencados.
O problema da sustentabilidade dos assentamentos urbanos em Angola é caracterizado pelo crescimento massivo do saldo populacional e a falta de uma gestão adequada e inteligente dos territórios urbanos como afirma no seu trabalho “Leitura geográfica e sócio-demográfica de um litoral em crise urbana: os casos das cidades de Benguela e Lobito em Angola” o autor Waldemar Sérgio Tavares. Este artigo de natureza exploratória visa identificar os fatores sociais, políticos e geográfico-naturais que configuram o cenário de crise urbana nas cidades de Benguela e Lobito em Angola. O estudo permitiu aferir que, os espaços urbanos nestas duas cidades crescem de maneira espontânea, sem planeamento urbanístico em termos de ordenamento do território, sem a observância às características geomorfológicas da região, tornando as comunidades que ali habitam, mais vulneráveis aos acidentes naturais. As instituições responsáveis pelo planejamento encontram-se altamente centralizadas, não havendo estratégias multiníveis a materialização de diretrizes ao ordenamento, organização e valorização dos espaços territoriais, revelando-se como um dos fatores de elevada influência à ocorrência deste fenómeno. Todavia, existe também um facto positivo na realidade estudada, testemunhada pela existência de normativos legais para a concepção planeada das paisagens urbanas, porém, não se aplicam a rigor.
No sexto artigo deste número de Diogo de Souza Vargas, Rodrigo da Costa Caetano e Jacinta de Aguiar Medeiros com o título “Territórios de uma Política de Saúde municipal: adversidades que geram diversidades na Atenção Primária à Saúde” procura, com destaque às duas localidades Murundu e Conceição do Imbé, distantes da sede municipal, compreender ações na Atenção Primária à Saúde de Campos dos Goytacazes/RJ. inicia com um levantamento bibliográfico sobre a política nacional de Atenção Primária à Saúde e das reverberações que refletem acerca da realidade das ações de saúde em nível local. Ao carecer de uma análise conjuntural entre gestores, profissionais e comunidades, percebe-se deficiências na aplicação das políticas nacionais para a realidade dos territórios pesquisados. Descentralizar sem observar as desigualdades sócio-espaciais na garantia do acesso aos serviços gera entraves à resolutividade que recrudescem os índices de enfermidade, a exemplo da vulnerabilidade.